Banco Central aumenta juros pela primeira vez no governo Lula e Selic vai a 10,75%

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu retomar o ciclo de alta da Taxa Selic nesta quarta-feira, elevando os juros básicos em 0,25 ponto percentual, de 10,50% para 10,75% ao ano. Esse é o primeiro aumento da Selic do terceiro mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva e vai na contramão dos Estados Unidos, que deram o pontapé inicial no processo de corte de juros após quatro anos, também nesta quarta.
A decisão foi tomada por unanimidade no colegiado, que atualmente é liderado pelo presidente Roberto Campos Neto. O movimento de aperto da Selic ainda coincide com a primeira reunião após a indicação do atual diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, à presidência do órgão no ano que vem — ele ainda será sabatinado e precisará ter seu nome aprovado pelo Senado.

Em relação aos passos futuros, o BC deixou claro que iniciou um ciclo de alta de juros, mas não quis se comprometer com o ritmo de aumento nem com a magnitude total do ajuste, deixando a porta aberta para novas altas. A próxima reunião acontece em novembro.

“O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”

Patamar de maio
Com a retomada do ciclo de alta, a Selic volta aos patamares de maio deste ano, antes da reunião que causou alvoroço no mercado financeiro devido ao racha entre os diretores indicados por Lula, favoráveis naquele momento a um juro mais baixo, e aqueles que já estavam no comitê no governo de Jair Bolsonaro. A taxa básica ficou parada em 10,50% em junho e julho.

De 126 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, 108 aguardavam aumento da Selic nesse ritmo, enquanto seis viam elevação de 0,50 ponto, para 11% e outras 12 esperavam manutenção.

No comunicado sobre a decisão, o BC destacou que o cenário atual é marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo (economia operando acima do potencial), elevação das projeções de inflação e expectativas de inflação distantes da meta. Isso, segundo o Copom, demanda “uma política monetária mais contracionista”. O hiato positivo indica que a economia está operando acima de sua capacidade, geralmente com utilização total de recursos (mão de obra e capital), o que pode gerar pressões inflacionárias.

A projeção oficial do BC para a inflação no horizonte relevante, que atualmente é o primeiro trimestre de 2026, é de 3,5% (considerando a Selic do Boletim Focus), já bastante acima da meta de 3,0%. No Copom anterior, era de 3,2% no cenário com Selic constante e 3,4% no cenário de referência (Focus, que considerava queda da Selic para 9,50% no fim do ano que vem). Para 2024 e 2025, as estimativas atuais do Copom são de 4,3% e 3,7%, contra 4,2% e 3,6% anteriormente.

Em relação à inflação corrente, o BC fez uma avaliação negativa: “A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

Petróleo fecha em baixa, apesar de corte de juros do Fed e tensões geopolíticas

O petróleo fechou em baixa modesta nesta quarta-feira (18) após operar volátil durante toda a sessão e em correção de ganhos recentes. Investidores de energia digeriam o aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio e a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de cortar o juro básico americano em 0,5 ponto porcentual.

Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para novembro fechou em queda de 0,11% (US$0,08), a US$ 69,88 o barril, enquanto o Brent para novembro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em queda de 0,06% (US$0,05), a US$ 73,65 o barril.

A sessão foi negativa para o petróleo nos primeiros negócios do dia, à medida que persistentes preocupações sobre a demanda se sobrepõem aos riscos à oferta. O ANZ Research diz que dados macroeconômicos fracos têm pesado sobre o consumo da commodity, que também enfrenta os efeitos do fim do verão americano, que costuma ser o período de mais forte demanda.

O ativo ganhou fôlego limitado pela manhã e chegou a flertar com o território positivo, após dados semanais do Departamento de Energia (DoE, na sigla em inglês) mostrarem queda além do esperado nos estoques da commodity e aumento nas reservas de gasolina e destilados abaixo do previsto. Dando algum suporte para o metal, também entraram no radar notícias sobre novas explosões no Líbano, em uma escalada das tensões que ameaça o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza.

Entretanto, o petróleo voltou a cair, após o Fed cortar taxas de juros, mas sinalizar que continua monitorando perspectivas econômicas e que não há trajetória pré-definida para a flexibilização monetária.

Para o Commerzbank, a demanda pela commodity segue enfraquecida, com a China, que era impulsionadora, se tornando detratora. Ademais, o banco acredita que, caso a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) insista em elevar sua produção de petróleo no ano que vem, os preços deve ceder ainda mais.

(Estadão Conteúdo)

Como o novo marco regulatório pode impulsionar o hidrogênio verde no Brasil

A aprovação do marco regulatório do hidrogênio verde, sancionado no início de agosto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após aprovação no Congresso Nacional, é um passo importante que pode colocar o Brasil em mais uma das várias rotas seguras de transição energética disponíveis atualmente.

O conjunto de regras vigente para o setor, agora, pode fazer com que o Brasil supere o trauma de políticas públicas malsucedidas e vislumbre um futuro renovável e bem-sucedido, segundo Fernanda Delgado, diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV). Ela será uma das participantes do evento Summit ESG – Empresas e Sociedade pela Agenda 2030, promovido pelo Estadão e que será realizado em 26 de setembro, no Teatro B32, em São Paulo.

“A importância do hidrogênio verde para a composição não só da matriz energética brasileira, mas para os processos de fabricação dos produtos nacionais é que ele tem a capacidade de trazer para baixo o conteúdo de carbono da produção. Portanto, para o Brasil fazer parte da nova economia verde será preciso principalmente descarbonizar setores como o da indústria siderúrgica, de fertilizantes, química, de alimentos e até do próprio petróleo”, diz a executiva.

Não que esteja tudo resolvido, muito pelo contrário, ainda mais porque a consolidação do chamado hidrogênio verde depende de entendimentos entre lideranças das várias áreas da sociedade brasileira. Em linhas gerais, como explica Delgado, a proposta, um “avanço notável”, segundo ela, criou um mecanismo de incentivos tributários e medidas para descarbonizar a matriz energética brasileira, por meio do Rehidro (Regime Especial de Incentivos para a Produção de Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono).

Por intermédio dessa iniciativa, incentivos fiscais da ordem de R$ 18 bilhões serão concedidos às empresas produtoras de hidrogênio verde entre 2028 e 2032. Haverá a suspensão de PIS, Cofins, PIS-Importação e Cofins-Importação. A criação do Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono, outra determinação da lei, também visa o financiamento do setor.

E mais uma medida aprovada no conjunto de regras, o fato de a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) passar a ser a instituição responsável por autorizar a produção, a importação, o transporte, a exportação e a armazenagem de hidrogênio, também é classificada como positiva pelos especialistas do setor. Empresas que não estiverem sediadas no Brasil não poderão produzir o combustível em território brasileiro.

Dados da Agência Internacional de Energia Renovável indicam que, em 2050, o hidrogênio verde deve ser responsável por 12% da necessidade global de energia. O que significa 409 milhões de toneladas produzidas todos os anos. E, se a neutralidade climática for realmente atingida em todas as cadeias de produção do novo tipo de combustível, o impacto sobre o aquecimento global poderá ser grande, da ordem de até 20% na redução das emissões globais, segundo o Hydrogen Council.

No caso brasileiro, além da exportação, a produção via mercado interno, por meio de hubs em construção principalmente no Nordeste, é uma realidade palpável, com vários projetos privados já em andamento. Que devem ganhar fôlego, agora, com o marco regulatório.

Matéria-prima renovável

Tanto do ponto de vista científico quanto tecnológico, o chamado hidrogênio verde apenas recebe esse título quando a matéria-prima utilizada no início do processo vem de uma fonte renovável ou da biomassa, como no caso do etanol. Existem veículos em várias partes do mundo que já são abastecidos com hidrogênio, mas são combustíveis produzidos a partir do gás natural. É o que se padronizou chamar de hidrogênio cinza, por estar no meio do caminho entre as fontes limpas e os combustíveis fósseis.

Outra possibilidade de produção de hidrogênio, e que nutre um trilho tecnológico em franco desenvolvimento no Brasil e em todo mundo, é a partir da água, por meio da hidrólise, a quebra da molécula.

No caso dessa quebra da água, tecnologia que está sendo usada, por exemplo, para a obtenção de hidrogênio no Ceará, um dos pontos importantes para a neutralidade climática do processo é o tipo de energia primária que será usada para movimentar os equipamentos que farão a hidrólise. Como a ideia, no caso, é usar energia solar, a conta fecha.

O mesmo raciocínio é válido para a energia eólica. A tecnologia da quebra da água, em larga escala, está recebendo atenção em várias partes do mundo. Os chineses estão com vários projetos em andamento.

Na prática, os dois processos, o que utiliza a biomassa como o etanol, ou o da quebra da água, estão partindo de uma molécula altamente energética (até quatro vezes mais do que a do carvão) estocada na natureza a partir de ligações químicas com outros elementos da tabela periódica. Apesar dos resultados promissores, e de muitas associações internacionais promoverem o hidrogênio verde como uma solução milagrosa, ainda vão ser necessários muitos anos para a tecnologia, de fato, decolar, segundo especialistas.

Petrobras diz que não procede notícia de redução de preço de combustíveis

A Petrobras informou nesta quarta-feira, 18, que as informações sobre uma redução nos preços dos combustíveis não procede, esclarecendo que ajustes nos preços são parte de suas operações regulares e ocorrem conforme necessário. Segundo a companhia, quando há mudanças nos preços, a atualização da tabela de preços é comunicada de imediato aos clientes através dos canais oficiais.

Em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a petroleira informou que realiza um monitoramento diário das variações nos preços do petróleo no mercado internacional e seus impactos no Brasil, como parte de suas operações rotineiras.

A empresa enfatizou ainda que quaisquer ajustes necessários nos preços de seus produtos serão feitos com base em análises técnicas detalhadas e independentes. “Essas análises levam em consideração a posição de mercado da Petrobras e a eficiência de suas operações de refino e logística, seguindo as diretrizes de sua estratégia comercial”, destaca a companhia.

Segundo a empresa, essa estratégia visa oferecer preços competitivos, alinhados tanto com o mercado internacional quanto com o nacional, minimizando o impacto da volatilidade dos preços internacionais e das flutuações cambiais. O objetivo é assegurar estabilidade de preços para os clientes, evitando repasses imediatos das variações conjunturais.

Etanol x gasolina: qual combustível vale mais a pena em setembro de 2024?

Abastecer o carro com álcool (ou etanol) voltou a valer a pena em 14 estados e no Distrito Federal. O combustível “mais verde” de origem vegetal passou a ter uma relação de preço médio e custo por quilômetro rodado melhor que o da gasolina nos primeiros quinze dias de setembro, segundo levantamento realizado pela Ticket Log.

Em média, a gasolina segue acima dos R$ 6, enquanto o etanol flutua mais perto dos R$ 4. Confira abaixo onde já é mais vantajoso trocar a gasolina pelo álcool.

Onde vale a pena abastecer com etanol em setembro de 2024?

Estado/local Média do litro do etanol Custo por km rodado do etanol Média do litro da gasolina Custo por km rodado da gasolina
Tocantins R$ 4,90 R$ 0,58 R$ 6,73 R$ 0,59
São Paulo R$ 4,01 R$ 0,47 R$ 6,05 R$ 0,53
Roraima R$ 5,06 R$ 0,60 R$ 6,87 R$ 0,60
Rondônia R$ 5,06 R$ 0,60 R$ 6,87 R$ 0,60
Paraná R$ 4,30 R$ 0,51 R$ 6,23 R$ 0,54
Piauí R$ 4,64 R$ 0,55 R$ 6,42 R$ 0,56
Minas Gerais R$ 4,45 R$ 0,52 R$ 6,36 R$ 0,55
Mato Grosso do Sul R$ 4,20 R$ 0,49 R$ 6,32 R$ 0,55
Mato Grosso R$ 4,00 R$ 0,47 R$ 6,39 R$ 0,56
Goiás R$ 4,15 R$ 0,49 R$ 6,16 R$ 0,54
Espírito Santo R$ 4,68 R$ 0,55 R$ 6,38 R$ 0,55
Distrito Federal R$ 4,30 R$ 0,51 R$ 6,11 R$ 0,53
Bahia R$ 4,70 R$ 0,55 R$ 6,36 R$ 0,55
Amazonas R$ 4,88 R$ 0,57 R$ 6,91 R$ 0,60
Acre R$ 4,99 R$ 0,59 R$ 7,19 R$ 0,63

Fonte: Ticket Log e UOL Carros.

Vale destacar que o etanol sobe o consumo em cerca de 30%, ou seja, só é vantajoso encher o tanque com o combustível quando a diferença de valor supera esse percentual de perda. A definição de onde é melhor abastecer com álcool é baseada no índice IPTL (Índice de Preços Ticket Log), que aponta o custo por quilômetro rodado considerando o preço médio do litro e o consumo médio do combustível (etanol e gasolina).

Brasil quer ser ‘campeão do clima’ e gigante do petróleo, mas ideais econômicos e ambienta

Diante do palácio presidencial em Brasília, um triunfante Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contemplou o complexo ato de equilíbrio à sua frente.

“O mundo espera que o Brasil seja novamente um líder na luta contra a crise climática”, disse à multidão em sua posse em janeiro do ano passado. “E um exemplo de um país social e ambientalmente responsável, capaz de promover o crescimento econômico.”

A eleição que devolveu Lula ao poder foi descrita como crucial para o destino do planeta. Seu rival derrotado, o ex-presidente Jair Bolsonaro, foi acusado de fechar os olhos para a destruição crescente da Amazônia —maior floresta tropical do mundo e uma fortaleza contra o aquecimento global devido à capacidade de absorver e armazenar grandes quantidades de dióxido de carbono.

Lula, que já esteve no cargo entre 2003 e 2011, se apresentou como um campeão ambiental. Neste mandato, já alcançou uma queda significativa no desmatamento da Amazônia e delineou amplos planos para a economia verde.

No entanto, uma tensão incômoda está no centro das aspirações do governo para a liderança climática global: o petróleo.

Enquanto o Brasil busca bombear volumes crescentes de petróleo de plataformas offshore, o governo quer levar o país do oitavo para o quarto lugar no ranking de produção de petróleo no mundo. Lula vê o setor como um pilar central do crescimento econômico do Brasil.

Há um incentivo para identificar novos depósitos sob o leito marinho —incluindo um plano controverso para perfurar petróleo em águas profundas na Foz do Amazonas.

Para ativistas, as propostas entram em conflito com as alegações de sustentabilidade de Lula. “Não há coerência alguma”, diz Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas da organização Observatório do Clima. “Você não pode ser um líder em meio ambiente e clima e ao mesmo tempo se tornar um mega produtor de petróleo.”

Enquanto o Brasil se prepara para sediar a conferência climática da ONU do próximo ano, a questão ameaça ofuscar o momento culminante da diplomacia ecológica de seu governo de esquerda.

Enquanto Lula apostou sua reputação internacional no meio ambiente, em casa ele precisa cumprir as promessas de aliviar a pobreza. Muitos em seu partido e além veem as riquezas petrolíferas do Brasil como um ingrediente-chave para o desenvolvimento nacional.

Aqueles a favor de explorar a riqueza de hidrocarbonetos dizem que, mesmo com a expectativa de queda do consumo global de petróleo durante a transição energética, ele ainda fará parte da mistura mundial por décadas. Eles argumentam que os lucros das vendas de petróleo e gás podem ajudar a financiar a transição brasileira, impulsionando suas credenciais de baixo carbono.

O país lidera o G20 em eletricidade renovável, que forneceu 89% de sua energia em 2023, de acordo com o think tank de energia Ember. O governo Lula se comprometeu a acabar com o desmatamento até 2030 e revisou para cima suas metas de redução de emissões.

“Não há contradição em nossa política nacional de energia”, diz o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que argumenta que o Brasil deve ser “pragmático”.

“Estamos colocando a política de transição em prática, mas não podemos pagar o preço sozinhos. Por que os Estados Unidos e a Arábia Saudita podem continuar sendo fornecedores de petróleo e não o Brasil? É uma discrepância e muitas vezes há uma demanda hipócrita de países que não têm petróleo, como a França.”

Uma série de eventos climáticos extremos no Brasil ao longo do último ano, ligados por cientistas às mudanças climáticas —incluindo secas, inundações e ondas de calor— têm injetado maior urgência no debate. Incêndios florestais massivos espalharam fumaça por grandes áreas do país nas últimas semanas.

Carlos Nobre, cientista de sistemas terrestres da USP (Universidade de São Paulo), diz que com o aumento das temperaturas globais ocorrendo mais rapidamente do que previsto anteriormente, “não faz sentido” buscar novas explorações de hidrocarbonetos, no Brasil —ou em qualquer outro lugar.

A conexão pessoal de Lula com o petróleo remonta ao seu primeiro mandato, quando a Petrobras descobriu o pré-sal na costa do Rio de Janeiro em 2006. Anunciada como uma das maiores descobertas deste século, Lula declarou que isso provava que “Deus é brasileiro”.

Enquanto o dinheiro do petróleo ajudou a financiar programas sociais nos governos liderados pelo PT, a euforia não durou. Primeiro, uma queda nas commodities interrompeu o boom econômico do Brasil.

Depois, o escândalo de corrupção centrado na Petrobras levou à prisão dezenas de empresários e políticos, incluindo Lula, cujas condenações foram anuladas em 2021. Sob o governo do PT, a empresa também sofreu interferência política e má gestão.

Hoje, o petróleo é a segunda maior exportação do Brasil, depois da soja, sendo a China de longe o maior comprador. O setor representa cerca de 10% do PIB.

A produção diária foi de 3,2 milhões de barris em junho, cerca de 3% do total mundial. A maior parte vem do pré-sal, dominado pela Petrobras em parcerias com grandes empresas como Shell, TotalEnergies e Cnooc, da China.

“Não era sempre uma conclusão óbvia que o Brasil se tornaria uma superpotência do petróleo”, diz Schreiner Parker, da consultoria Rystad Energy. “Os custos de desenvolvimento dos ativos do pré-sal eram enormes, exigindo um grande investimento de capital. Estamos começando a ver os frutos disso agora.”

Especialistas em energia dizem que o fornecimento futuro de petróleo precisará ser barato e ter uma pegada de carbono menor para permanecer competitivo com as energias renováveis em meio a impostos sobre carbono e uma eventual queda na demanda. Os defensores do pré-sal dizem que ele é idealmente adequado.

Plataformas flutuantes conectadas a poços em águas profundas desfrutam de enormes economias de escala que reduzem os custos unitários. O processo para extrair um barril de petróleo do pré-sal emite de 8kg a 9kg de CO2, cerca da metade da média global, segundo a Rystad.

“Se o mundo demandar petróleo, [o Brasil] pode dizer, ‘Por que eu não deveria ser o produtor quando temos emissões realmente boas em comparação com outros produtores?'” diz Francisco Monaldi, especialista em energia da América Latina na Universidade Rice em Houston.

Com a previsão de pico na produção de petróleo do Brasil até o início da próxima década, que será seguida por queda, tanto a Petrobras quanto Brasília anseiam a reposição das reservas.

A grande esperança é a margem equatorial: um trecho de 2.200 km do Atlântico ao largo da costa norte do país, em alguns dos estados mais pobres do Brasil.

As cinco bacias dentro desta nova fronteira podem conter 10 bilhões de barris recuperáveis de petróleo, exigindo um investimento de R$ 308 bilhões, estimou o Ministério de Minas e Energia. Isso poderia aumentar as reservas provadas do Brasil em mais de um terço e resultar em R$ 1,1 trilhão em receitas fiscais, estimou. Silveira chamou isso de “um passaporte para o futuro”.

A Petrobras dedicou dois quintos de seu orçamento de exploração de R$ 41,2 bilhões ao longo de cinco anos à zona. Ela começou a perfuração exploratória em águas profundas em uma das bacias este ano e confirmou a presença de petróleo.

No entanto, existem obstáculos para a seção mais valorizada: a bacia da foz do rio Amazonas.

“Acredita-se que seja uma das regiões mais promissoras na Margem Equatorial Brasileira, pois compartilha geologia com a vizinha Guiana, onde a ExxonMobil está desenvolvendo campos enormes”, diz Adriano Pires, fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

No entanto, os reguladores rejeitaram, no ano passado, um pedido da Petrobras para obter a licença para perfurar um poço exploratório lá, em um bloco que a empresa diz estar a 500 km da foz do rio e a 160 km da costa do Amapá. O caso se tornou um ponto de conflito mais amplo.

Ativistas afirmam que a perfuração representa riscos para áreas biodiversas e ecologicamente sensíveis próximas ao estuário, que também abriga comunidades pesqueiras, manguezais, recifes de coral e golfinhos. Eles alertam que qualquer vazamento poderia ser levado longe pelas correntes.

O Ibama citou a falta de estudos aprofundados sobre a adequação da região para a produção de petróleo, possíveis impactos nas populações indígenas devido a voos e planos insuficientes para proteger a vida selvagem em caso de vazamentos. Um recurso da Petrobras está sob consideração.

Analistas do setor destacam a longa experiência e expertise da Petrobras em alto mar. A empresa, que recusou pedidos de entrevista, do FT insiste que pode conduzir a atividade com segurança e afirmou que não pretende perfurar em regiões costeiras ou próximas a áreas sensíveis.

Sua nova CEO, Magda Chambriard, disse recentemente que 10 anos já foram perdidos desde que o bloco em questão foi leiloado em 2013.

TotalEnergies e BP tinham interesse na bacia, mas desistiram após abandonar esforços para obter licenças. “Não é crível que três grandes empresas de petróleo não estejam cumprindo seu papel em termos de licenciamento”, disse Chambriard em junho.

Com o desenvolvimento esperado para levar vários anos a partir da primeira aprovação de perfuração, o medo é que o momento possa escapar. As perspectivas offshore do Brasil levam mais tempo e mais capital para serem implementadas em comparação com as jazidas de xisto dos EUA ou da Argentina, observa Monaldi.

“Até que desenvolvam a Margem Equatorial, pode ser que a demanda por petróleo tenha enfraquecido e poucos investidores estejam dispostos a arriscar ativos encalhados.”

Os funcionários insistem que o pedido de perfuração na Foz do Amazonas seja decidido com base em critérios técnicos e não políticos. Mas para aqueles dos dois lados do debate, isso será um teste decisivo da credibilidade ambiental de Lula ou de seu compromisso em impulsionar o progresso econômico.

“O que não podemos dizer é que, a priori, vamos desistir de explorar essa riqueza, que, se as previsões forem verdadeiras, será muito grande para o Brasil”, disse o presidente em junho. “É contraditório? É, porque estamos investindo muito na transição energética. Mas enquanto a transição energética não resolver nosso problema, o Brasil tem que ganhar dinheiro com esse petróleo.”

Dentro do governo, existem visões diferentes. Uma abordagem mais cautelosa é dada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que já pediu um “teto” para a exploração de petróleo.

“Mesmo que consigamos eliminar as emissões de CO2 devido ao desmatamento, se o mundo não parar de emitir CO2 devido ao uso de carvão, petróleo e gás, as florestas serão destruídas da mesma forma. Então é um desafio para a humanidade”, diz ela.

Silva evita declarar uma posição sobre a nova frente de petróleo no Atlântico. Ela diz que o debate não pode ser reduzido a um país e pede que as nações ricas ajudem a financiar a transição verde do mundo em desenvolvimento, mas é clara sobre as obrigações coletivas: “Um compromisso foi feito durante a COP28 [em 2023], juntamente com todos os países signatários, de que devemos fazer a transição para o fim do uso de combustíveis fósseis.”

Na mesma cúpula climática da ONU, o Brasil enfrentou protestos de ativistas depois de anunciar que iria se aproximar do cartel de petróleo da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) como observador e não sujeito às suas cotas de produção. Lula justificou isso como uma forma de influenciar os países produtores de petróleo a investir mais em energias renováveis.

O Brasil já direciona parte das receitas do pré-sal para um fundo de gastos sociais e isso poderia ser expandido para incluir projetos ecológicos, diz o ministro Silveira.

“Se [Lula] destinar uma quantidade significativa desses recursos para reduzir as emissões da agricultura e do desmatamento, ele poderia alcançar um resultado líquido melhor”, diz Monaldi, referindo-se à origem da maioria dos gases de efeito estufa do Brasil.

Mas, dadas as finanças públicas tensas do país, para ser credível, serão necessários limites claros sobre como os recursos serão utilizados, acrescenta ele.

A Petrobras diz que está investindo em alternativas mais verdes, tendo dobrado seu valor para projetos de baixo carbono para R$ 63,3 bilhões ao longo de cinco anos. Mas os críticos argumentam que a quantia é insignificante em comparação com os R$ 401,9 bilhões dedicados à exploração e produção no mesmo período.

Ao inspecionar um trator capotado coberto de lama, Otavino Vedovatto relatou o impacto do pior desastre natural na história do Rio Grande do Sul alguns meses atrás.

Inundações extremas destruíram campos de arroz em sua fazenda em Eldorado do Sul. Todos os frangos e porcos se afogaram e máquinas foram danificadas.

“A natureza nos deu sinais”, diz o morador de 57 anos de um assentamento estabelecido pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). “Ela está cobrando um preço pelas ações dos seres humanos.”

Foi a quarta inundação significativa a atingir a região em menos de um ano. Uma estimativa colocou a conta de reconstrução em R$ 110 bilhões e há avisos de que lares, empresas e cidades inteiras em risco de futuras ocorrências podem precisar se mudar.

A mudança climática tornou as chuvas mais prováveis no estado, de acordo com um estudo do World Weather Attribution, que fez descobertas semelhantes em relação a uma seca excepcional na bacia do rio Amazonas e incêndios nas áreas úmidas tropicais do Pantanal.

Enquanto isso, o recurso pendente de perfuração pela Petrobras continuará pairando sobre a contagem regressiva para a COP30, que deve ocorrer em Belém em novembro de 2025. Embora um oficial do ministério do meio ambiente tenha sugerido que a decisão possa ser adiada até depois da conferência, o ministro de Minas e Energia disse ao FT que acredita que a questão será resolvida este ano.

“Para o Brasil liderar a COP30, não poderia ser um país ainda defendendo o aumento de emissões por combustíveis fósseis”, diz Nobre. “Realmente temos que chegar a zero, porque temos um tremendo potencial com energia renovável e espero que o governo de Lula siga nessa direção.”

Em seu discurso de posse, o presidente disse que “nenhum outro país tem as condições como o Brasil para se tornar uma grande potência ambiental”.

Em um ato de equilibrismo entre preservação ambiental e crescimento econômico, Lula em breve terá que convencer o mundo exatamente o que isso significa.

(Financial Times)

Papo de Roda: gasolina com 35% de etanol, e você no prejuízo

O “Combustível do Futuro”, já aprovado pelo Congresso, determina alterações na nossa matriz energética em defesa da “energia limpa e renovável”. Sob esta bandeira, aparentemente indiscutível, o Brasil vai queimar mais combustível verde, menos do fóssil. Na linha global da descarbonização do planeta e bom para o agronegócio, mas punindo os motoristas. Nas bombas, mais etanol na gasolina e mais biodiesel no diesel.

No caso do etanol, qual o problema de a mistura com a gasolina subir o percentual dos atuais 27% para 35%?

No flex, o problema é só no bolso

Num carro flex, o motor vai continuar funcionando normalmente, pois foi projetado para receber qualquer proporção dos dois combustíveis: 100% gasolina ou 100% álcool. Ou a mistura dos dois em qualquer percentual: 50/50, 20/80 ou outra qualquer. O carro tem um sensor que percebe qual combustível está vindo do tanque. No escapamento ou na linha de alimentação do motor. Esta informação é repassada à central eletrônica que o ajusta automaticamente.

Entretanto, o motor pode não protestar, mas seu bolso, sim. O etanol tem valor energético cerca de 33% inferior ao da gasolina. Então, o motor vai precisar de mais combustível para rodar a mesma quilometragem. Em outras palavras, aumenta o consumo. Por isso é que só vale a pena abastecer o carro flex com etanol se ele custar cerca de 25 a 30% menos que a gasolina. O que se paga a menos pelo etanol compensa a menor quilometragem que se roda por litro.

Então, se a gasolina com 35% de etanol tem menor valor energético, ela necessariamente deveria custar menos por litro. Entretanto, das últimas vezes em que se aumentou este percentual, o governo se “esqueceu” de determinar uma redução no preço da gasolina para compensar o aumento de consumo. O resultado é que o motorista, no fim do mês, será novamente punido com uma conta maior no posto embora tenha rodado a mesma quilometragem.

Mas e os carros que só podem ser abastecidos com gasolina?

Carro a gasolina vai sofrer com maior percentual

Ainda existem milhões de carros nacionais sem o sistema flex, lançado em 2003. E os importados. Aí, o buraco é mais embaixo pois, além do prejuízo monetário de se pagar por gasolina e levar mais de 1/3 de álcool, alguns motores podem “protestar”. Pois não foram projetados pra isso e são incapazes de se ajustar como o flex. Alguns deles até poderiam apresentar um funcionamento satisfatório. Outros correm risco de perder desempenho e funcionar irregularmente.

Quando o governo decidiu aumentar o teor de etanol para 27%, o Centro de Pesquisas da Petrobras (Cepes) realizou testes com mistura de até 30%, sem problemas nos motores importados. Mas não realizaram, na época, testes com 35% de etanol.

Viabilidade: técnica ou política?

O PL 528/2020 aprovado pela Congresso observa que as alterações serão implantadas depois de aprovada sua “viabilidade técnica”. Sob responsabilidade de um Grupo de Trabalho da Comissão Nacional de Politica Energética (CNPE) do Ministério de Minas e Energia, que jamais negou qualquer elevação do teor de biocombustível, seja do etanol na gasolina, seja o biodiesel no diesel. A decisão não é técnica, mas política.

Quando elevou a mistura de etanol para 27%, o governo teve o bom senso de manter em 25% o teor da gasolina do tipo premium, que abastece preferencialmente os automóveis importados. O problema agora é mais grave, ainda que o governo adote a mesma política: dono de carro novo importado tem condições de pagar pela gasolina premium, bem mais cara que a normal. Mas e quem não é abonado e tem um velho carro a gasolina?

O motorista brasileiro sempre sofreu com um combustível fora de todos os padrões internacionais. E nada indica uma mudança a médio ou longo prazo.

Autor/Veículo: CNN

Preço do Etanol na BR-101 é 11,76% mais alto que a média nacional, aponta Edenred Ticket Log

O mais recente Índice de Preços Edenred Ticket Log (IPTL), levantamento que consolida o comportamento de preços das transações nos postos de combustível, trazendo uma média precisa, revelou que, no fechamento de agosto, a BR-101 segue sendo a rodovia mais cara para abastecer, independente do tipo de combustível. Nela, a gasolina foi comercializada a R$6,28, o etanol a R$4,75, o diesel comum a R$6,14 e o diesel S-10 a R$6,03. O levantamento da marca considera o comparativo entre a BR-101, Régis Bittencourt, Presidente Dutra e Fernão Dias, que estão entre as maiores de todo o País.

“Na BR-101, o preço médio registrado para o etanol foi 11,76% mais alto do que a média nacional, que fechou o mês a R$4,25. Enquanto isso, o preço da gasolina se encontrou igual (R$6,28) e o diesel abaixo (comum a R$6,10 e tipo S-10 a R$6,18). Os valores altos comercializados na rodovia não são uma novidade de agosto, mas os postos da BR-101, quando comparados aos de outras rodovias, comercializam, ao longo do ano, os combustíveis pelos valores mais elevados”, analisa Douglas Pina, Diretor-Geral de Mobilidade da Edenred Brasil.

A Fernão Dias foi onde se encontrou o preço mais barato para ambos os tipos de diesel, R$5,80 para o comum e R$5,93 para o S-10, enquanto a Presidente Dutra comercializou a gasolina mais barata R$6,03, mesmo após aumento de 1,68%. Já o litro médio mais barato para o etanol foi registrado nos postos de abastecimento da Régis Bittencourt, a R$4,13.

O IPTL é um índice de preços de combustíveis levantado com base nos abastecimentos realizados nos 21 mil postos credenciados da Edenred Ticket Log, que tem grande confiabilidade, por causa da quantidade de veículos administrados pela marca: 1 milhão ao todo, com uma média de oito transações por segundo. A Edenred Ticket Log, marca da linha de negócios de Mobilidade da Edenred Brasil, conta com mais de 30 anos de experiência e se adapta às necessidades dos clientes, oferecendo soluções modernas e inovadoras, a fim de simplificar os processos diários.

(Edenred Ticket Log)

Projeto cria política de incentivo ao uso de etanol nos carros

O Projeto de Lei 2149/24 cria uma política de incentivo ao uso de etanol no Brasil. O projeto, do deputado Ossesio Silva (Republicanos-PE), está em análise na Câmara dos Deputados.

Denominada na proposta de “Na Hora de Abastecer, Escolha o Etanol”, a política tem os seguintes objetivos:

  • estimular o consumo de combustível sustentável, limpo e renovável;
  • promover o agronegócio e o combustível proveniente da cana-de-açúcar;
  • fortalecer o setor sucroenergético e os produtores rurais;
  • promover ações para a baixa emissão de carbono na agropecuária; e
  • apoiar a criação de microdestilarias de base associativista como forma de incentivar o consumo de etanol pelos agricultores associados.

Carros do governo

Ainda segundo o texto, os órgãos públicos federais priorizarão o abastecimento de seus veículos flex com etanol sempre que a utilização desse combustível for mais vantajosa para a administração pública.

Além disso, os veículos a combustão adquiridos com recursos de emendas parlamentares deverão preferencialmente ser equipados com motores flex.

A União também deverá estimular as empresas sediadas no Brasil a aderir a campanhas internacionais de redução das emissões de carbono e a se comprometer com o consumo preferencial de etanol em seus veículos flex.

Valorização

Na avaliação de Ossesio Silva, estimular o consumo do etanol é uma forma de demonstrar que o agronegócio brasileiro – que tem na cana-de-açúcar um de seus pilares – é amigo do meio ambiente.

“A proposição busca conscientizar sobre as vantagens ambientais do etanol, um combustível limpo e renovável, bem como valorizar o setor sucroenergético e os produtores rurais, além de fortalecer toda a cadeia produtiva, que gera milhares de empregos diretos e indiretos”, afirma o parlamentar.

Estimativa da consultoria Datagro apontou que apenas 30% da frota de veículos flex, que é maioria no Brasil, foi abastecida com etanol hidratado em janeiro deste ano.

Tramitação

O projeto tramita em caráter conclusivo e será analisado pelas comissões de Administração e Serviço Público; de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Para virar lei, a proposta precisa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado.

Autor/Veículo: Agência Câmara de Notícias

Como a gasolina com 35% de etanol pode prejudicar o motor do seu carro

O chamado projeto dos “combustíveis do futuro” foi recentemente aprovado no Senado, algo que ocorreu no início deste mês. Dentre os destaques, o que mais teve polêmica foi o aumento do etanol na gasolina, que poderia passar dos atuais 27,5% para até 35%, mistura essa em maior proporção que deixou muito motorista com receio.

Antes de saber se tal aumento do combustível derivado da cana-de-açúcar na gasolina pode prejudicar o motor do seu carro, vamos relembrar que a legislação atual permite que o percentual seja variável.

Hoje é obrigatório que toda gasolina tenha no mínimo 18% de etanol em sua composição, podendo chegar no máximo a 27,5%, mas esse valor poderá variar entre 22% e 35% com o novo projeto de Lei PL 528/2020. Tal flexibilidade se dá por conta da disponibilidade de combustíveis, principalmente por conta da safra da cana.

Mais etanol na gasolina pode prejudicar o motor?

Para sanar qualquer dúvida, consultamos o Luiz Pedro Scopino, professor de mecânica e consultor técnico. O que é unanimidade é que tanto carro movido somente a gasolina quanto carro dotado de tecnologia flex, ou seja, que pode ser abastecido com etanol (álcool) ou gasolina em qualquer proporção, ficará “mais gastão”, pois ocorrerá o aumento do consumo de combustível.

“Mas o que mais me preocupa é que o aumento do álcool na gasolina vai afetar diretamente o funcionamento do motor. Com certeza, os motores vão ter um aumento de consumo de combustível”, explica Scopino.

Outra questão que pode ser preocupante para os motores dos carros é o desgaste de peças, algo que vai ter uma variação deste nível de desgaste dependendo a época de fabricação do carro.

“Bom, todo aumento do álcool combustível, que é um álcool que é corrosivo, querido ou não, vai afetar todas as peças que têm contato com ele. Se a proteção, na época do carro, é boa, pode aguentar. Mas dentro da normalidade, não”, diz o especialista.

O sistema de injeção eletrônica pode ser afetado?

Para quem está preocupado com a injeção eletrônica de seu carro, pode ficar tranquilo que o aumento do etanol para até 35% não vai prejudicar o sistema diretamente. A questão mais complicada mesmo são os componentes que vão lidar diretamente com a nova proporção do etanol na gasolina.

“O sistema em si, a parte eletrônica, não vai ter nenhum desgaste, mas com certeza vai aumentar as falhas prematuras no circuito de combustível. Bomba de combustível vai sofrer maior desgaste, bicos injetores vão sofrer maior desgaste e, acima de tudo, o filtro de combustível deverá ter a sua data ou quilometragem de troca antecipados, porque vai sujar mais esse filtro”, detalha.

Para os donos de carros mais antigos, principalmente do começo dos anos 2000 (modelos com um considerável volume na frota nacional), época em que a tecnologia flex foi inserida, poderá ficar um pouco mais despreocupado.

“Praticamente toda a injeção eletrônica, a partir desse período, vai conseguir identificar essa mistura diferente, porque vai entender que o carro está com uma mistura de gasolina e álcool. Não é o álcool na gasolina, é a mistura mesmo por ele ser flex. Ela vai identificar isso tranquilamente e vai adequar o funcionamento. Mas vão notar aumento de consumo de combustível e isso é real”, diz Scopino.

A questão do aumento do consumo de combustível era algo já é esperado para muitos, já que os carros quando abastecidos com etanol sempre têm um consumo consideravelmente menor em relação a gasolina, embora o combustível vegetal seja um pouco mais barato nos postos de combustíveis.

Para os donos de carros mais antigos, principalmente do começo dos anos 2000 (modelos com um considerável volume na frota nacional), época em que a tecnologia flex foi inserida, poderá ficar um pouco mais despreocupado.

“Praticamente toda a injeção eletrônica, a partir desse período, vai conseguir identificar essa mistura diferente, porque vai entender que o carro está com uma mistura de gasolina e álcool. Não é o álcool na gasolina, é a mistura mesmo por ele ser flex. Ela vai identificar isso tranquilamente e vai adequar o funcionamento. Mas vão notar aumento de consumo de combustível e isso é real”, diz Scopino.

A questão do aumento do consumo de combustível era algo já é esperado para muitos, já que os carros quando abastecidos com etanol sempre têm um consumo consideravelmente menor em relação a gasolina, embora o combustível vegetal seja um pouco mais barato nos postos de combustíveis.

O Projeto de Lei

Vale lembrar que o tal Projeto de Lei dos combustíveis do futuro (PL 528/2020)passou em março pela Câmara dos Deputados. No início de setembro, ele foi aprovado pelo Senado, que fez uma alteração no texto, justamente na parte voltada para o aumento de até 35% de etanol na gasolina – no texto original era previsto no máximo 30%.

De autoria do ex-deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), a matéria foi aprovada pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), que é relator do projeto. Veneziano disse que a proposta vai “mitigar o aquecimento global, beneficiando toda a sociedade, em linha com os compromissos assumidos pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris”.

Com texto original alterado pelo Senado, o projeto que poderá aumentar o etanol para até 35% na gasolina agora volta para uma nova avaliação na Câmara dos Deputados.

Vale lembrar que, para entrar em vigor, o PL precisar ser votado e aprovado para só depois seguir para sanção presidencial. Somente depois de passar por todos esses processos, o aumento poderá entrar em vigor.